A maior história ambiental do planeta ocorre neste momento no Ártico, onde o gelo marítimo derrete a uma velocidade impressionante e com níveis jamais vistos pela ciência nesta época do ano.
A extensão do gelo do mar do Ártico hoje está ao redor de 7 milhões de quilômetros quadrados e está diminuindo 146.000 quilômetros quadrados em média por dia, consideravelmente mais rápido que a média diária de 1981 a 2010 de 85.900 quilômetros quadrados por dia.
A cobertura de gelo marítimo no Ártico já se aproxima hoje em pleno mês de julho do que costumava ser o mínimo anual médio nos anos 90. O mínimo normalmente ocorre em setembro, logo o degelo vai aumentar muito ainda nos próximos 50 a 60 dias.
A cobertura de gelo hoje está cerca de 540 mil quilômetros quadrados menor que o recorde mínimo para o dia registrado até o ano passado, ou seja, o derretimento ocorre em velocidade muito mais acelerada que em qualquer ano da série histórica observacional.
Trata-se da menor cobertura de gelo marítimo já registrada nesta época do ano no lado siberiano do Ártico, especialmente no mar de Laptev, observou Zachary Labe, cientista climático do Departamento de Ciência Atmosférica da Universidade Estadual do Colorado. No total, o gelo do mar do Ártico está cerca de 500.000 quilômetros quadrados abaixo do recorde mínimo anterior para esta época do ano.
“Mais uma vez, estamos vendo um evento verdadeiramente notável dentro do Círculo Polar Ártico”, disse Labe.
Vários fatores provocaram a recente diminuição drástica do gelo do mar no Ártico. Esses fatores são amplamente influenciados pelo clima implacavelmente mais quente na região e no planeta.
Uma onda de calor extrema atingiu recentemente a região da Sibéria, com uma cidade russa alcançando 38°C, a temperatura mais alta já registrada no Ártico. O calor contribuiu para derreter o gelo do mar acima da Sibéria. O pequeno povoado de Kujga, na Yakutia, localizado a 70°N de latitude, hoje registrou 35,4°C.
Um estudo divulgado em 15 de julho pelo projeto World Weather Attribution revelou que o calor da Sibéria no primeiro semestre de 2020 teria sido “quase impossível” sem a mudança climática.
Temperaturas altas fazem com que a água se acumule na superfície do gelo marítimo, acelerando o derretimento. Há vastas regiões de águas abertas, que também amplificam o aquecimento do Ártico e o derretimento do gelo.
Devido ao amplo oceano aberto, que normalmente ainda estaria coberto de gelo do mar, as temperaturas da superfície do mar estão subindo mais de 5°C acima da média à medida que o calor da radiação solar é absorvido pela água. As temperaturas da água estão bem acima de zero nas águas acima da Sibéria.
Ademais, o gelo do mar era significativamente mais fino que a média no último inverno, o que significa que o gelo derrete mais facilmente durante o verão. Os ventos que sopram do Sul afastaram ainda o gelo do mar da costa geralmente coberta de gelo.
O Ártico está aquecendo cerca de três vezes mais rápido que o resto do mundo, e a tendência do gelo marítimo é acompanhar este movimento. Menos gelo no mar significa um Ártico mais quente, e há evidências crescentes de que um Ártico aquecido resulta em padrões atmosféricos mais persistentes, criando eventos climáticos como ondas de calor mais longas nos Estados Unidos, na Europa e em outros lugares.
Incêndios sem precedentes surgiram no Círculo Polar Ártico nos últimos dois anos. Um Ártico mais quente pode significar uma mudança em direção ao comportamento extremo do fogo nessa região polar, uma queima que libera quantidades abundantes de dióxido de carbono que retém o calor na atmosfera.
A perda de gelo marinho afeta também os ursos polares, que precisam de gelo no mar para caçar. Os biólogos esperam que muitas subpopulações de ursos polares desapareçam neste século.
À medida que o solo outrora congelado (permafrost) derrete, a infraestrutura como tanques de petróleo começou a colapsar, resultando recentemente em poluição ambiental e devastação na Sibéria.
A extrema perda de gelo em julho é uma evidência ainda mais forte de um globo profundamente alterado e em mudança. “Sem uma redução em larga escala nas emissões de gases de efeito estufa, esses tipos de eventos extremos se tornarão mais frequentes no século 21″, disse Labe. “2020 é outro alarme”, conclui. (Com foto de capa do WWF)