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Ártico
12/12/2020

A maior história climática de 2020

O que ocorre neste ano na Sibéria é extraordinário e assusta os cientistas que se dedicam ao estudo do clima


A maior história climática de 2020 não é a temporada recorde de furacões do Atlântico ou os incêndios devastadores no Oeste dos Estados Unidos ou a seca na América do Sul que levou a um desastre ambiental no Pantanal. A grande história de 2020 no planeta responde pelo nome Sibéria.

O aquecimento da região russa do Ártico nos últimos meses é espantoso para não dizer assustador. Todos os meses deste ano na região tiveram temperatura muitíssimo acima do normal. É um fato absolutamente extraordinário do ponto de vista climatológico e que tem preocupado os cientistas do clima.

O gráfico abaixo mostra a evolução da temperatura média dos últimos seis meses comparada a das últimas décadas para o mesmo periodo nas últimas décadas. No gráfico do pesquisador Zack Labe se observa uma tendência de aquecimento muito acelerado nos últimos anos, mas particularmente extraordinário em 2020.

Os mapas com as anomalias de temperatura da região dos últimos seis meses revelam um cenário igualmente espantoso de aquecimento com anomalias de quase 10°C em algumas áreas. 

Uma onda de calor extrema atingiu no verão a região da Sibéria, com uma cidade russa alcançando 38°C, a temperatura mais alta já registrada no Ártico. O calor contribuiu para derreter o gelo do mar acima da Sibéria. O pequeno povoado de Kujga, na Yakutia, localizado a 70°N de latitude, registrou 35,4°C.

Um estudo divulgado em 15 de julho pelo projeto World Weather Attribution revelou que o calor da Sibéria no primeiro semestre de 2020 teria sido “quase impossível” sem a mudança climática.

Temperaturas altas fazem com que a água se acumule na superfície do gelo marítimo, acelerando o derretimento. Há  vastas regiões de águas abertas, que também amplificam o aquecimento do Ártico e o derretimento do gelo. Devido ao amplo oceano aberto, que normalmente ainda estaria coberto de gelo do mar, as temperaturas da superfície do mar estão subindo mais de 5°C acima da média à medida que o calor da radiação solar é absorvido pela água. 

Ademais, o gelo do mar era significativamente mais fino que a média no último inverno, o que significa que o gelo derrete mais facilmente durante o verão. Os ventos que sopram do Sul afastaram ainda o gelo do mar da costa geralmente coberta de gelo.

O Ártico está aquecendo cerca de três vezes mais rápido que o resto do mundo, e a tendência do gelo marítimo é acompanhar este movimento. Menos gelo no mar significa um Ártico mais quente, e há evidências crescentes de que um Ártico aquecido resulta em padrões atmosféricos mais persistentes, criando eventos climáticos como ondas de calor mais longas nos Estados Unidos, na Europa e em outros lugares.

Incêndios sem precedentes surgiram no Círculo Polar Ártico nos últimos dois anos. Um Ártico mais quente pode significar uma mudança em direção ao comportamento extremo do fogo nessa região polar, uma queima que libera quantidades abundantes de dióxido de carbono que retém o calor na atmosfera.

A perda de gelo marinho afeta também os ursos polares, que precisam de gelo no mar para caçar. Os biólogos esperam que muitas subpopulações de ursos polares desapareçam neste século.

À medida que o solo outrora congelado (permafrost) derrete, a infraestrutura como tanques de petróleo começou a colapsar, resultando recentemente em poluição ambiental e devastação na Sibéria.

A extrema perda de gelo no verão é uma evidência ainda mais forte de um globo profundamente alterado e em mudança. “Sem uma redução em larga escala nas emissões de gases de efeito estufa, esses tipos de eventos extremos se tornarão mais frequentes no século 21″, disse Labe. “2020 é outro alarme.”